quinta-feira, 14 de maio de 2015

Lugares de poder em Santa Maria Del Tule e Teotitlan del Valle

 
Nos intervalos das atividades junto à Escola Nueve Lunas, construímos um pequeno roteiro de visitações em lugares de poder dos povos desse lugar. O primeiro destino foi conhecer a Árvore de Tule, localizada no município de Santa María del Tule, próximo à cidade de Oaxaca de Juárez.
Seu tronco tem 58,00m de circunferência, 14,05 m de diâmetro e sua altura é de 42 m. Com a idade estimada em mais de 2000 anos, esta árvore é uma das maiores do mundo. É conhecida como Ahuehuete, cipreste mexicano.


Árvore de Tule
 Estar diante desta antiga senhora, escutando os milhares de pássaros que vivem nela, nos sensibiliza muito. Trata-se de uma entidade anterior à invasão dos espanhóis nestas terras e carrega a energia de povos originários que já a cultuavam como uma anciã. Sentimo-nos honradas, presenteadas e abençoadas.



Seguimos viagem para encontrar outras guardiãs da sabedoria antiga, no pequeno povoado de Teotitlan del Valle - Teotitlan significa "morada dos deuses". Nesta zona zapoteca (o zapoteco e seus dialetos são ainda os primeiros idiomas aprendidos pelo povo dali) se  produz o Mezcal, bebida derivada do agave, tradicional dos vales oaxaqueños, usada também como medicina e oferenda. Fomos recebidas por Dolores Anel, aluna da segunda geração da Escola Nueve Lunas, que nos levou à casa de sua tia e mestra, a parteira tradicional Mercedes Bautista Lôpez, Doña Meche, de 81 anos. Ela herdou o dom de sua mãe e avó e se mostra orgulhosa de estar passando a herança de seu conhecimento para sua sobrinha. Doña Meche começou a atender partos com 17 anos, quando um casal a procurou e sua mãe estava atendendo outro nascimento. Enchendo-se de valor (coragem) e com a certeza de que não poderia deixar de ajudar, ela foi. O menino que nasceu em suas mãos hoje tem filhos adultos e netos também atendidos por ela, três gerações de uma mesma família.

D. Meche com parteiras e aprendiz do Brasil
Atualmente, tia e sobrinha, parteira e aprendiz, atendem partos juntas, "não tantos quanto outrora haviam", nos conta D. Meche, mas a demanda continua, especialmente de mulheres da serra de Oaxaca. Algumas, nos contam, chegam até duas semanas antes da data estimada para o nascimento e ficam com a parteira em sua casa, onde recebem seus filhos. Na alimentação da gestante, ela oferece tortillas tostadas para o bebê crescer forte e no pós-parto, caldo de galinha com atole, o milho tostado, que fortalece e estimula a lactação. 

D. Meche e sua aprendiz e sobrinha Dolores Anel
Doña Meche nos mostrou manobras com rebozo - o pano de algodão tradicional onde muitas mexicanas carregam seus filhos e suas coisas, assim como também se agasalham e se enfeitam - para posicionar o bebê no útero. Também nos mostrou as posições que as mulheres de diferentes comunidades escolhem para parir, de acordo com sua cultura. Para elas, é importante que a placenta seja enterrada ou queimada enterrando suas cinzas, para que as crianças não esqueçam de sua raiz e sempre voltem para o local onde nasceram.

D. Maria
 A próxima visita foi à casa da curandeira Doña Maria, que também ensina as alunas da Escola Nueve Lunas. Dentro de Teotitlan nos movemos em um tradicional moto-taxi, com 3 lugares para passageiro. No espaço de consultas de sua casa, recebemos uma limpeza energética com plantas e D. Maria fez conosco o diagnóstico do ovo, antiga técnica de averiguar as moléstias de seus pacientes através de um ovo quebrado em um copo de água. Nos receitou um chá de erva de câncer, planta nativa dos montes oaxaqueños usada para curar o "empacho" (dificuldade no sistema digestivo), que também serve como cicatrizante e tonificante especialmente para mães recentes.  

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