terça-feira, 26 de maio de 2015

Círculo Internacional de Iniciação à Pateria Tradicional e Encontro de abuelas marcam o Intercambio!

Entre os dias 18 a 22 de maio, um outro círculo de mulheres foi iniciado em Oaxaca. Organizado pela Escola Nueve Lunas em parceria com a ESCTA/Cais do Parto, reuniu parteiras, aprendizes de parteiras e mulheres que de alguma forma estão nesse caminhar. Mulheres de diversos lugares do México e também de outros países como Peru, Colômbia, Costa Rica e Estados Unidos.




Durante 4 dias, Escutá-las foi como uma imersão, significou um mergulho nas histórias de cada uma das mulheres reunidas, que se intercalava com atividades de iniciação à parteira, no sentido de despertar o feminino,entrar em contato com os 4 elementos e com a espiritualidade imanente da tradição das parteiras.

Foram dias de profundo autoconhecimento e também de discutir importantes temas políticos, entre eles, a polêmica entre tradição x hospital. Ao longo das vivências e dos debates, o interesse foi tentar separar a importância de cada abordagem, sem radicalismos nem fundamentalismos em torno do que defendemos, apenas para respeitar e separar o lugar de cada uma: não é possível fundir a tradição no hospital, porque vai se cometer um duplo constrangimento, seja para um ambiente que foi construído e pensado pra agregar outras práticas, seja para a tradição que não vai conseguir ser dignamente praticada.





Assim, avançamos para dialogar que um parto vaginal pode ocorrer em qualquer lugar, inclusive no hospital, mas um parto natural não, porque não é natural o ambiente hospitalar para um parto, quando o hospital é necessário, já deixou de ser natural. Apenas em ambiente como o próprio domicílio um parto pode ser natural, conectando a força daquela mulher com a natureza, com seus familiares e com a proteção da tradição do partejar.

Foram dias de muitas transformações, seja no aperfeiçoamento de conceitos e de posicionamentos políticos, seja na reflexão subjetiva que trouxe diversos desafios a serem enfrentados pelas mulheres.



"Escutá-las foi como um espelho, ver nas suas histórias fragmentos do meu sentir. Todas estamos, ou passamos em algum momento pelas mesmas dores e dificuldades e apesar de suas especificidades, assumimos: Precisamos fazer esse trabalho! Um grupo grande, forte unido, todas buscando a mesma coisa e com uma guiança muito forte e clara."

(Núria, Guadalajara México)



ENCONTRO DE ABUELAS

Duas Abuelas Parteiras Tradicionais: D. Hermila e Suely


Neta e filha de Parteiras, Doña Hermila Diego Gonzalez, de 82 anos, parteira tradicional, curandeira e rezadeira representa com muita honra a sua ancestralidade e os saberes repassados de geração para geração em sua família. Mãe de 4 filhos, repassou à eles seus conhecimentos e hoje conta orgulhosa que todos trabalham com curas, mesmo que tenham buscado a formação acadêmica.
Medicinas naturais na botica da tradição de D. Hermila
 D. Hermila abriu sua casa, na manhã de domingo dia 17 de Maio, para nos contar um pouco de sua vida e seu trabalho reconhecido como “medica tradicional”. Ela vive na área urbana de Oaxaca e é grande a demanda por seu trabalho de cura. É convidada para ensinar em vários lugares do mundo e acessa e-mail (seu endereço eletrônico tem a palavra em zapoteco nisbaan, que significa água de vida).
Sua casa é também seu consultório, onde além de atender mulheres grávidas, faz os chás, os cremes pomadas, as tinturas e todas as medicinas com ervas. Desenvolve remédios naturais indicadas para inumeras enfermidades além de revitalizantes e até uma pomada analgésica feita a partir do Peyote (cacto medicinal), entre outros.
Consultório na Casa de D. Hermila
 Foi uma conversa fluida e gostosa regada a água de limon, onde as duas mestras, que se conhecem de longa data, se reencontraram: D. Hermila e Suely Carvalho. Elas trocaram receitas e informações sobre ervas e D. Hermila nos contou suas histórias e o quanto sua missão é importante. Em certa ocasião foi convidada junto com outras rezadeiras e curandeiras de varios lugares do País para a visita do Papa João Paulo II, quando este esteve na Cidade do México, na oportunidade mostraram seu trabalho realizando uma limpeza energética no ilustre visitante católico.

Uma das medicinas que utiliza é o temazcal, que quer dizer “casa do vapor’. É uma das cerimônias mais antigas que existe em diferentes culturas de origem nos povos indigenas , representando o útero da mãe terra, também usado para as mulheres antes-durante-após o parto, fazendo uma limpeza em todos seus corpos (físico, emocional e espiritual), tratando e prevenindo doenças em todos os níveis. O temazcal é realizado dentro de uma estrutura circular, fechada com somente uma pequena entrada semelhante ao iglu, no centro são colocadas pedras incandecidas em fogueira e um chá de ervas aspergido nas pedas que fazem o vapor medicinal junta-se os cantos os rezos que promove catarses, curas. D. Hermila afirma que seu temazcal não é como os que viu sendo feito em outros países com base na cultura andina e estadunidense ela realiza um ritual simples e original que aprendeu com sua avó.

O ENCONTRO TÃO ESPERADO COM D. QUETA


O último grande encontro em Oaxaca foi com Henriqueta Contreras – Doña Queta. É verdade que esta viagem foi planejada para estarmos mais tempo com essa senhora tão sábia e tão especial, mas algumas limitações de saúde e uma cirurgia a qual foi submetida no início de maio, impossibilitou uma vivência mais demorada com ela.
Passamos uma tarde com D. Queta em sua florida casa. No México, percebemos que é comum mestras e mestres da medicina tradicional (esse termo aqui está relacionado com a tradição dos povos indígenas) terem em suas casas um espaço para produzir medicinas, expor seus produtos e atender pessoas.

Conhecemos, então, sua casa que possui um quarto de oração, um temazcal, um espaço de produção das medicinas e um quarto organizado como uma farmácia, uma verdadeira botica da tradição! Ali, diversas medicinas em tinturas, pomadas, pacotes de ervas, tudo muito limpo e organizado em ordem alfabética!

Visita a Abuela Julieta


Após a imersão, enfrentamos uma viagem de 6h em estradas cheias de curvas para subir as montanhas que levam a Hualtla, cidade da famosa sacerdotisa Maria Sabina. Hualtla, que na língua mazateca, significa 'lugar das águias", é uma cidade localizada no norte do estado de Oaxaca, a mais de 1500m de altitude e com aproximadamente 68mil habitantes.

Nossa busca em Hualtla era fazer contato com Doña Julia Julieta, sacerdotisa e curandeira, representante do México no movimento das 13 Abuelas Internacionais. Felizmente, tivemos muita sorte, a casa da doña Julieta ficava a poucos quarteirões da pousada onde nos instalamos e logo fomos ao seu encontro. Doña Julieta nos recebeu com alegria! Conversou com Suely Carvalho, relembrando cenas do últmo encontro das Abuelas em estiveram juntas e também nos contou sobre seu trabalho, sua família, falou de política, de seus planos de viagens e nos mostrou peças de artesanato bordadas por ela mesma.


Acertamos com ela para voltar mais tarde para uma cerimônia de consagração de cogumelos, "los niños sagrados" como são chamados por lá. Chegado o momento, fomos brindadas com um lindo ritual com a participação de vários membros da família de nossa abuelita, inclusive um neto de apenas 10 anos que cantava lindamente. Estávamos ansiosas por essa experiência de expansão de consciência e, felizmente, fomos abençoadas com um momento intenso de muita luz, autoconhecimento e cura para todas nós.

No dia seguinte, passeamos pelo comércio local para conhecer o mercado municipal e a enorme feira da cidade e também desfrutamos da surpreendente culinária Hualteca. Tantos sons, cheiros e sabores incríveis nos faziam sentir de todas as formas o prazer dessa maravilhosa imersão na cultura mexicana. Mas, como tudo que é bom dura pouco, nossa breve passagem de menos de 24h por Hualtla chegou ao fim e embarcamos novamente para encarar mais 6h de viagem, agora em descida, de volta para a cidade de Oaxaca, de onde seguiremos para a Cidade do México.


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