Sair de casa por 3 semanas, deixando trabalho e família foi um grande desafio para mim. Entretanto, logo no aeroporto quando encontrei minha mestra e minhas companheiras, eu já senti que tudo valeria a pena demais!
Cheguei
na Cidade do México e logo seguimos para a cidade de Oaxaca, onde
fica a sede da Escuela Nueve Lunas e onde passaríamos maior
parte dos nossos dias. Oaxaca me impressionou pela arquitetura
colorida, pela alegria das pessoas na rua e pela variedade nos
artesanatos. Rapidamente, me adaptei ao lugar e, especialmente à
alimentação: quanta riqueza de aromas e sabores! Apesar do consumo
de carne ser muito grande, há inúmeras possibilidades para pessoas
de dieta vegetariana como eu.
As
vivências com as irmãs da Escuela Nueve Lunas foi muito
feliz. Elas nos olhavam com admiração, ouviam nossas histórias com
atenção e nós fazíamos o mesmo em relação a elas. As diferenças
culturais e o desafio da comunicação em portanhol
tornaram-se muito pequenos diante da experiência fortalecedora de
conhecer tantas mulheres com as quais temos tanto em comum. Como no
Brasil, lá elas também trabalham diariamente para resgatar e manter
as tradições ancestrais de parteria e de curas em geral. Como no
Brasil, no México também há todo um sistema medicalizador da
saúde, entretanto existe a resistência, existem mulheres dispostas
a lutar para que suas irmãs valorizem, reconheçam e pratiquem a
Tradição de suas ancestrais.
Com
o coração cheio de alegria, vi o respeito e a consideração que,
tanto as mestras quanto as alunas da Nueve Lunas, têm pela
nossa mestra Suely Carvalho, que trabalha junto com elas através da
parceria entre as escolas, numa constante troca de saberes e
experiência, prestando apoio mútuo. Fiquei feliz e honrada por me
perceber como aprendiz de uma Escola que tem um movimento político
forte, com tantas alianças internacionais e com centenas de mulheres
que compartilham a mesma busca e caminhada.
Fiquei
encantada com cada umas das parteiras tradicionais e curandeiras -
sanadoras - que tive a oportunidade de conhecer e conversar:
Doña Meche, Doña Maria, Doña Iola, Doña Hermila, Doña Queta,
Doña Julieta entre outras. Todas elas, com muita gentileza e
paciência, compartilharam sua sabedoria conosco. Impressionante como
elas vivenciam a Tradição e o compromisso de estar a serviço da
humanidade através das rezas, das ervas, das medicinas e de todo um
estilo de vida voltado para o conhecimento da natureza e para um
constante estado de espírito de contentamento.
Nos
dias que passei da Cidade do México, tive a grata oportunidade de,
junto com minhas queridas companheiras, conhecer o Santuário da
Virgem de Guadalupe, o Museu de Frida Kahlo e o Sítio Arqueológico
de Teotihuacan entre outros pontos culturais e lugares de poder.
Ali pude observar o quanto, mesmo no agito caótico de uma das
maiores cidades do mundo, a história e a cultura do país é
preservada como um grande tesouro da humanidade.
No
início desta jornada, a madrinha nos alertou que em viagens como
essa, na qual há uma convivência contínua e intensa, provavelmente
alguém ficaria doente, alguém perderia algo importante e alguma
intriga poderia acontecer. Bem, de fato, uma das companheiras pegou
uma gripe, mas ninguém perdeu nada e, o mais importante, não se
passou nenhum desentendimento entre nós. Pelo contrário, achamos
muitas coisas, tanto no mundo exterior quanto em nossos corações e
também fortalecemos nosso vínculo de irmandade e amizade.
Eu,
particularmente, volto para casa tomada pela gratidão de ser
merecedora deste lindo presente que foi este intercâmbio cultural.
Volto, certamente, mais amadurecida, pensando menos e sentindo mais.
Volto fortalecida como pessoa e como parteira e curandeira, ainda
mais confiante e determinada em vivenciar a Tradição e em levá-la
a outras pessoas, ciente da minha missão, me colocando a serviço.
Volto orgulhosa da minha mestra, da minha Escola e do meu país.
Volto com muito mais amor no coração e muito mais vontade de
trabalhar!
Agradeço
às minhas companheiras de viagem e irmãs na Tradição, Bruna,
Denise, Sayonara e Thiana por cada momento de partilha, de
aprendizado, de irmandade, de cuidado mútuo e de descontração.
Agradeço
à minha mestra e madrinha, Suely Carbalho, por sua presença e
ensinamentos constantes, por todo seu empenho e cuidado com a minha
formação, por ser uma fonte de inspiração e por todo seu
incentivo para o meu desenvolvimento e amadurecimento como parteira,
como terapeuta e como mulher.
Agradeço
à Escuela Nueve Lunas, às suas diretoras Araceli Gil,
Cristina Galante e Vicky Alejandre e a todas as hermanas
alunas e parteiras aprendizes pela acolhida afetuosa, pelo interesse,
carinho e por todas as experiências partilhadas.
Agradeço
ao Ministério da Cultura e ao Governo Federal do Brasil por, através
do patrocínio financeiro deste projeto de intercâmbio cultural,
mostrar seu interesse no resgate e na manutenção da parteria
tradicional.
Agradeço
à Grande Mãe e ao Universo por toda a proteção que recebo sempre
e pela conspiração para que todos os encaixes políticos,
financeiros, profissionais e familiares necessários à concretização
desta viagem tenham se realizado com tanta perfeição!
*
Parteira na tradição atuante em Fortaleza-Ce, aluna da ESCTA/CAIS
do parto desde 2012, instrutora de yoga para gestantes, terapeuta
holística e coordenadora do Espaço Flor de Luz